A Congada é uma manifestação
cultural e religiosa de influência africana celebrada em algumas regiões do Brasil. Trata basicamente de três temas em seu enredo:a vida de São
Benedito, o encontro de Nossa Senhora do Rosário submergida
nas águas e a presentação da luta de Carlos Magno contra as invasões mouras.
Foi em meio à escravidão que surgiram as Irmandades
negras das Minas Gerais, grupos religiosos que se apropriaram de elementos
culturais da sociedade escravista e os somaram aos valores herdados de suas
terras de origem no continente africano, compondo um mundo próprio que pulsava
nas frestas do Brasil escravocrata.
No Brasil Colônia e Império, essas instituições tiveram um papel fundamental na sociabilidade dos africanos e de seus descendentes, representando na maioria das vezes o único meio de inserção dos negros numa sociedade brutalmente desigual e preconceituosa. No período da mineração (séculos XVII e XVIII), multiplicaram-se em Minas Gerais as Irmandades negras, reunindo escravos e alforriados devotos de Nossa Senhora do Rosário, Santa Ifigênia e São Benedito. Dentro delas, os irmãos cotizavam-se para cuidar sobretudo dos enterros, dos doentes e da compra de alforrias. Reuniam, em geral, africanos de uma mesma etnia, em sua grande maioria pertencentes ao ramo banto: congos, moçambiques, cabindas etc.
A congada é um evento que faz parte do folclore brasileiro. Trata-se, além das irmandades religiosas, de um desfile ou procissão que reúne
elementos das tradições tribais de Angola e do Congo, com influências ibéricas
no que se refere à religiosidade. Esse fenômeno cultural é conhecido como sincretismo religioso: entidades dos cultos africanos eram identificados aos
santos do catolicismo, uma espécie de "negociação cultural" entre os colonizadores portugueses e os negros escravizados. Assim, a Igreja, as autoridades e os senhores de engenho
em geral aceitavam ou prestigiavam a solenidade.
Animada por danças, cantos
e música, a procissão acabava numa igreja (em geral, as de irmandades de
negros, como Nossa Senhora do Rosário) onde, com a presença de uma corte e seus
vassalos, acontecia a cerimônia de coroação do Rei Congo e da Rainha Ginga de
Angola - uma personagem da história africana, a Rainha Njinga Nbandi, do século
17. Esses autos, contudo, não existiram no território africano.
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Altar da casa de uma benzedeira da cidade
de Tiradentes. Essa benzedeira foi eleita a Rainha do Congo no ano de 2012. |
Instrumentos
Todos os instrumentos utilizados na
Congada são originados do artesanato folclórico – a Marimba e os dois atabaques
ou tambaques, como dizem os caiçaras.
Atabaques: também chamados de tambaques, são
feitos de tronco, numa só peça, e são usados uma na função de surdo e o outro
na função de repique. Na formação da Congada, esses instrumentos são
colocados tradicionalmente atrás do Rei de Congo.
As roupas ou vestimentas dos Congadeiros também
fazem parte do repertório da dramaturgia, ou seja, o colorido reforça a beleza
da dança. As espadas também ganham destaque, simbolizando o poder.
Vestimenta azul: utilizada pelos Fidalgos do Rei
de Congo (lado de Cima), representando os cristãos.
Vestimenta Vermelha e branca: utilizada pelos
Congos do Embaixador (lado de Baixo), representando os mouros (não batizados).
Capas: na sua maioria coloridas (floridas),
amarrada às costas dos Congadeiros, é utilizada como acessório do soldado do
Congo. Geralmente ela é jogada para os lados, e associando-se aos pulos e
coreografias com as espadas, resultando no popular “dançar trocado”.
Chapéu: juntamente com as vestimentas, ganham
destaque por serem decorados com penas e miçangas dando um toque a mais no
espetáculo.
Espadas: é uma arma de combate, que após o
perdão dado ao Embaixador, torna-se um instrumento de grande destaque nas
coreografias. A espada desembainhada simboliza Poder.
Lenço Branco: utilizado pelos congos do
Embaixador no fim da apresentação. Representa a paz firmada entre os povos. Ele
é balançado na despedida do grande baile, onde na ocasião é entoado um cântico.
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Foto do sekere. |
Omele é um tipo de batá (tambor tradicional yoruba) duplo. O omele é tão
importante que sempre foi visto como acompanhamento, em todos os estilos e
gêneros da música yoruba,
assim como está presente na Congada.
Dundun: existem três
tipos: kenkeni (o menor), sangban (o médio) e doundounba (o maior). O kenkeni tem o diapasão mais alto e em geral
mantém o ritmo em conjunto com um modelo simples.
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Foto do Dundun e seus três tipos. |
Reco-reco (também raspador, caracaxá ou querequex)
é um termo genérico que indica os idiofones cujo som é produzido por raspagem.
É
importante ressaltar que há pequenas mudanças nos instrumentos utilizados pelos
diversos grupos de Congada. Essa divergência se dá pelas influencias que eles
receberam da região onde se encontrarão. Alguns grupos complementam: o grupo
de Congada do Bairro São
Francisco utiliza o coração: uma peça curiosa da indumentária dos Congos é o
coração, e provavelmente a Congada do Bairro São Francisco é a única do Estado
de São Paulo que utiliza este tipo de adereço. Ele tem por tradição ser
ornamentado cada um no seu estilo, ou seja, cada congo teu seu coração de sua
maneira, ora com miçangas, broches, escapulários, fitas e outros adornos,
tornando-se um espetáculo à parte na vestimenta do congadeiro.
Padroeiros
Além
de instrumentos característicos, há padroeiros louvados por esta manifestação
cultural-religiosa. As congadas atuais são
originárias de coroações e ainda estão presentes em diversos estados de todo o
Brasil. Realizadas de maneiras diversas e mescladas a outras festas, elas
basicamente são compostas de desfiles teatrais, ao som de vários ritmos:
embaixadas, desafios, repentes e maracatus. Têm como padroeiras Nossa Senhora
do Rosário, São Benedito e Santa Ifigênia.
Por isso, geralmente se apresentam nas festas
desses santos ou ainda no mês de maio. Em Minas Gerais, realizam-se no mês de
outubro, em homenagem a Nossa Senhora do Rosário. Seus participantes vestem-se
de branco, com um saiote de fitas coloridas e o rosário de lágrimas a tiracolo,
e dançam ao ritmo das caixas e dos chocalhos. Tanto em Minas como no Rio Grande
do Sul, a Rainha Ginga desfila em procissão.
O cortejo executava coreografias, jogos
de agilidade e de simulação guerreira, como a dança de espadas. Depois da
coroação havia uma festa com baile, comidas e bebidas. As Irmandades de Nossa
Senhora do Rosário ajudavam em todo o processo. Por vezes a imagem da santa era
pintada de preto.
A seguir apresentaremos três partes da apresentação de um grupo de Congada, gravado por Lara Judith.
Fontes:
Congada: Festa folclórica une tradições africanas e ibéricas. Disponível em: < http://educacao.uol.com.br/disciplinas/cultura-brasileira/congada-festa-folclorica-une-tradicoes-africanas-e-ibericas.htm > Acesso em: 23 out. 2013
Congada - Sírio Arqueológico São Francisco. Disponível em: < http://www.sitiosaofrancisco.org.br/modules/parceiros/item.php?itemid=1&page=5 > Acesso em: 24 out. 2013
O que é congada. Disponível: < http://congadapqsbc.no.comunidades.net/index.php?pagina=1474133591 > Acesso em: 24 out. 2013