quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Congadas

A Congada é uma manifestação cultural e religiosa de influência africana celebrada em algumas regiões do Brasil. Trata basicamente de três temas em seu enredo:a vida de São Benedito, o encontro de Nossa Senhora do Rosário submergida nas águas e a presentação da luta de Carlos Magno contra as invasões mouras.

Foi em meio à escravidão que surgiram as Irmandades negras das Minas Gerais, grupos religiosos que se apropriaram de elementos culturais da sociedade escravista e os somaram aos valores herdados de suas terras de origem no continente africano, compondo um mundo próprio que pulsava nas frestas do Brasil escravocrata. 
Igreja Nossa Senhora do Rosário –
abaixo o seu interior.




No Brasil Colônia e Império, essas instituições tiveram um papel fundamental na sociabilidade dos africanos e de seus descendentes, representando na maioria das vezes o único meio de inserção dos negros numa sociedade brutalmente desigual e preconceituosa. No período da mineração (séculos XVII e XVIII), multiplicaram-se em Minas Gerais as Irmandades negras, reunindo escravos e alforriados devotos de Nossa Senhora do Rosário, Santa Ifigênia e São Benedito. Dentro delas, os irmãos cotizavam-se para cuidar sobretudo dos enterros, dos doentes e da compra de alforrias. Reuniam, em geral, africanos de uma mesma etnia, em sua grande maioria pertencentes ao ramo banto: congos, moçambiques, cabindas etc.


A congada é um evento que faz parte do folclore brasileiro. Trata-se, além das irmandades religiosas, de um desfile ou procissão que reúne elementos das tradições tribais de Angola e do Congo, com influências ibéricas no que se refere à religiosidade. Esse fenômeno cultural é conhecido como sincretismo religioso: entidades dos cultos africanos eram identificados aos santos do catolicismo, uma espécie de "negociação cultural" entre os colonizadores portugueses e os negros escravizados. Assim, a Igreja, as autoridades e os senhores de engenho em geral aceitavam ou prestigiavam a solenidade.


Animada por danças, cantos e música, a procissão acabava numa igreja (em geral, as de irmandades de negros, como Nossa Senhora do Rosário) onde, com a presença de uma corte e seus vassalos, acontecia a cerimônia de coroação do Rei Congo e da Rainha Ginga de Angola - uma personagem da história africana, a Rainha Njinga Nbandi, do século 17. Esses autos, contudo, não existiram no território africano.

Altar da casa de uma benzedeira da cidade
de Tiradentes. Essa benzedeira foi
eleita a Rainha do Congo no ano de 2012. 

Instrumentos

Todos os instrumentos utilizados na Congada são originados do artesanato folclórico – a Marimba e os dois atabaques ou tambaques, como dizem os caiçaras.

Atabaques: também chamados de tambaques, são feitos de tronco, numa só peça, e são usados uma na função de surdo e o outro na função de repique. Na formação da Congada, esses instrumentos são colocados tradicionalmente atrás do Rei de Congo. 


As roupas ou vestimentas dos Congadeiros também fazem parte do repertório da dramaturgia, ou seja, o colorido reforça a beleza da dança. As espadas também ganham destaque, simbolizando o poder. 

Vestimenta azul: utilizada pelos Fidalgos do Rei de Congo (lado de Cima), representando os cristãos. 

Vestimenta Vermelha e branca: utilizada pelos Congos do Embaixador (lado de Baixo), representando os mouros (não batizados).

Capas: na sua maioria coloridas (floridas), amarrada às costas dos Congadeiros, é utilizada como acessório do soldado do Congo. Geralmente ela é jogada para os lados, e associando-se aos pulos e coreografias com as espadas, resultando no popular “dançar trocado”.


Chapéu: juntamente com as vestimentas, ganham destaque por serem decorados com penas e miçangas dando um toque a mais no espetáculo.


Espadas: é uma arma de combate, que após o perdão dado ao Embaixador, torna-se um instrumento de grande destaque nas coreografias. A espada desembainhada simboliza Poder. 


Lenço Branco: utilizado pelos congos do Embaixador no fim da apresentação. Representa a paz firmada entre os povos. Ele é balançado na despedida do grande baile, onde na ocasião é entoado um cântico.


Foto do sekere.
Sekere: cascas de cowrie são brilhantemente enroladas ao redor de uma grande e polida cabaça; o músico sacode violentamente o sekere (chocalho) e também usa os seus punhos para bater na cabaça que por meio disso cria um som percuciente que alegra e encanta os espectadores. O músico sekere às vezes exibe a sua destreza levantando o instrumento bem alto no ar e rapidamente pega-o para criar um clima festivo.


Omele é um tipo de batá (tambor tradicional yoruba) duplo. O omele é tão importante que sempre foi visto como acompanhamento, em todos os estilos e gêneros da música yoruba, assim como está presente na Congada.

Dundun: existem três tipos: kenkeni (o menor), sangban (o médio) e doundounba (o maior). O kenkeni tem o diapasão mais alto e em geral mantém o ritmo em conjunto com um modelo simples.
Foto do Dundun e seus três tipos.

Reco-reco (também raspador, caracaxá ou querequex) é um termo genérico que indica os idiofones cujo som é produzido por raspagem. 

É importante ressaltar que há pequenas mudanças nos instrumentos utilizados pelos diversos grupos de Congada. Essa divergência se dá pelas influencias que eles receberam da região onde se encontrarão. Alguns grupos complementam: o grupo de Congada do Bairro São Francisco utiliza o coração: uma peça curiosa da indumentária dos Congos é o coração, e provavelmente a Congada do Bairro São Francisco é a única do Estado de São Paulo que utiliza este tipo de adereço. Ele tem por tradição ser ornamentado cada um no seu estilo, ou seja, cada congo teu seu coração de sua maneira, ora com miçangas, broches, escapulários, fitas e outros adornos, tornando-se um espetáculo à parte na vestimenta do congadeiro. 


Padroeiros

Além de instrumentos característicos, há padroeiros louvados por esta manifestação cultural-religiosa. As congadas atuais são originárias de coroações e ainda estão presentes em diversos estados de todo o Brasil. Realizadas de maneiras diversas e mescladas a outras festas, elas basicamente são compostas de desfiles teatrais, ao som de vários ritmos: embaixadas, desafios, repentes e maracatus. Têm como padroeiras Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e Santa Ifigênia.


Por isso, geralmente se apresentam nas festas desses santos ou ainda no mês de maio. Em Minas Gerais, realizam-se no mês de outubro, em homenagem a Nossa Senhora do Rosário. Seus participantes vestem-se de branco, com um saiote de fitas coloridas e o rosário de lágrimas a tiracolo, e dançam ao ritmo das caixas e dos chocalhos. Tanto em Minas como no Rio Grande do Sul, a Rainha Ginga desfila em procissão.


O cortejo executava coreografias, jogos de agilidade e de simulação guerreira, como a dança de espadas. Depois da coroação havia uma festa com baile, comidas e bebidas. As Irmandades de Nossa Senhora do Rosário ajudavam em todo o processo. Por vezes a imagem da santa era pintada de preto.

A seguir apresentaremos três partes da apresentação de um grupo de Congada, gravado por Lara Judith.







Fontes:
Congada: Festa folclórica une tradições africanas e ibéricas. Disponível em: < http://educacao.uol.com.br/disciplinas/cultura-brasileira/congada-festa-folclorica-une-tradicoes-africanas-e-ibericas.htm > Acesso em: 23 out. 2013
Congada - Sírio Arqueológico São Francisco. Disponível em: < http://www.sitiosaofrancisco.org.br/modules/parceiros/item.php?itemid=1&page=5 > Acesso em: 24 out. 2013
O que é congada. Disponível: < http://congadapqsbc.no.comunidades.net/index.php?pagina=1474133591 > Acesso em: 24 out. 2013


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